terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Entrevista com Roberley Meirelles

Continuando a série de entrevistas com umbandistas que fazem a diferença, consegui uma conversa super legal com Roberley Meirelles, ou simplesmente RMeirelles, como é mais conhecido. Uma pessoa doce, educada, equilibrada. Bom senso é a palavra que melhor define RMeirelles. Dirigente da Tenda de Umbanda Nossa Casa, Nosso Terreiro, ele muito gentilmente nos concedeu essa entrevista, que só veio provar que é uma pessoa honesta e sincera no que pensa e faz. Deleitem-se com a entrevista.
1. Como você define a umbanda?
Umbanda é a união de espíritos encarnados e desencarnados para a prática da caridade e melhoramento na vida do ser humano. Seria uma sociedade onde nós encarnados entramos com a nossa disciplina e consciência e nossos guias entram com a sabedoria e o conhecimento da natureza humana.
2. Dizem que se chega à umbanda pelo amor ou pela dor. Como você chegou a ela?
Por incrível que pareça, cheguei por amor, eu era trabalhador em uma casa espírita no bairro do Ipiranga, em São Paulo, e um dia fui com minha esposa fazer uma iniciação de Reiki na casa de um amigo nosso que é pai de santo na umbanda e possui um terreiro no piso superior de sua casa. Ele nos convidou para conhecer, nos falou sobre os orixás, guias e forma de trabalho. Voltamos para conhecer e ver uma gira de umbanda, e continuamos voltando até sermos convidados para compor a corrente mediúnica e estamos até hoje. Já não trabalho nesse terreiro, mas foi assim o meu início.
3. Você ocupa algum cargo na umbanda? Fale sobre isso.
Sim, sou dirigente espiritual da Tenda de Umbanda Nossa Casa, Nosso Terreiro, inaugurado em agosto de 2010, situado à rua Gasparini, 44, bairro Rudge Ramos, em São Bernardo do Campo, e esta casa está se firmando no astral, buscamos sempre fazer um bom trabalho, ajudando quem nos procura com conselhos e amizade. Tenho um grupo de estudos sobre umbanda e suas práticas, realizados às quartas-feiras com filhos do terreiro e algumas pessoas que querem conhecer mais a religião. Procuro de uma forma simples explicar alguns fundamentos e formas de trabalho e posturas mediúnicas que ajudam a esclarecer muitas dúvidas simples que todos nós temos.
4. O que você acha desses novos métodos usados na umbanda, como o reiki, a cromoterapia, a apometria? Você acha que isso descaracteriza a umbanda?
Reiki funciona sem dúvida, mas fora das sessões de umbanda, com um trabalho à parte, traz paz e serenidade às pessoas. Em nossa casa atendemos às quartas-feiras à tarde, onde as pessoas são equilibradas e energizadas através da cura holística do reiki e terapias com cristais, trabalho desenvolvido por minha esposa Lucília, mãe da casa. Ela recebe muitos elogios das pessoas que desfrutam dessas fontes de energias. Usamos a cromoterapia através das pedras e cristais em sintonia com o reiki. Quanto à apometria, sei o básico, um breve aprendizado no período em que trabalhava no espiritismo, mas nossos guias já utilizam formas similares há muito tempo.
5. Você acha que para um umbandista é necessário estudar a obra de Kardec ou basta apenas entender a umbanda?
Todos devemos sempre estudar, ler, entender e saber o que acontece no mundo, não podemos ficar atrelados a apenas uma forma de conhecimento. Eu tenho uma base espírita que muito me ajudou quando eu cheguei à umbanda, porém existem ótimas fontes dentro da umbanda para estudar os orixás e entender os guias. Ninguém pode se supor auto-didadata, estamos em aprendizado sempre e isso só acaba quando terminar nossa missão nessa vida.
6. Você acha que a presença de discussões sobre umbanda no meio virtual (orkut, blogs) ajuda ou atrapalha a imagem da religião?
Atrapalhar não, de forma alguma! Ajuda muita gente a entender um pouco mais sobre a umbada e por incrível que pareça, fazer um comparativo com os trabalhos desenvolvidos em vários terreiros, isto é conhecimento, seja ele bom ou ruim, é conhecimento. O importante é saber filtrar e separar aquilo que faz sentido e que nos serve e o que não nos serve.
7. Se você tivesse que indicar um livro sobre umbanda, qual seria?
A literatura é extensa, li vários livros que falam sobre umbanda, existem várias fontes de vários autores. Eu particularmente quando li O Guardião da Meia-Noite, do Rubens Saraceni, pude entender um pouco sobre o que é uma queda humana dentro da espiritualidade. Gosto de ler sobre os orixás, de Pierre Fatumbi Verger a Reginaldo Prandi, mas um livro que indico a todos é "A Cabana", de William P. Young. Esse livro traz uma simplicidade sobre Deus, Jesus e o Espírito Santo.
8. Qual a sua opinião sobre o Rubens Saraceni? Parece que ele não é uma unanimidade no meio umbandista.
Pai Rubens Saraceni tem seu valor dentro do meio umbandista, assim como Pai Rivas Neto, Pai Matta e Silva, Pai Juberli Varella, Pai Milton Aguirre, Pai Ronaldo Linares e vários outros que nos fogem à memória, mas que de alguma forma contribuem para o crescimento e firmamento da umbanda.
9. No meio virtual você se mostra uma pessoa bem equilibrada, até administra uma das maiores comunidades sobre umbanda no orkut. Essa tarefa é muito difícil?
Difícil, sinceramente não. Falar sobre umbanda é fácil, pois é o meu dia a dia. O difícil é aplacar a sede de conhecimento do neófitos que buscam o mundo virtual para tirar dúvidas ou buscar o conhecimento, pois muitas vezes um ensinamento errado ou mal colocado pode atrapalhar e dificultar o crescimento espiritual de outra pessoa. As palavras têm duplo sentido e nem sempre o que é dito é o que é entendido por aqueles que fazem uso do mundo virtual.
10. Cite alguns nomes de umbandistas que você admira e que acha que fazem a diferença.
Pai Ronaldo, em nossa região, é sem dúvida uma grande referência, pois com sua força de vontade criou o Santuário Nacional de Umbanda, onde forma segura podemos realizar nossos trabalhos nas matas ou cachoeiras. Sem dúvida uma pessoa que admiro e respeito. Alexandre Cumino, criador do JUS, junto com Rodrigo Queiroz, meu amigo Fernando Seppe, tive o prazer de trabalhar no terreiro de nossa mãe-de-santo, dona Aleida Barros, minha mãezinha que admiro muito, de verdade. Sinto falta do café da tarde na casa dela, falando de macumba. São pessoas como eles que, muitas vezes de forma anônima, fazem a umbanda acontecer todos os dias em milhares de terreiros por todo o Brasil.
11. Na sua opinião, no meio virtual existem pessoas que atrapalham ou denigrem a imagem da umbanda? Você poderia falar sobre isso?
Não acredito que denigrem, acredito que muitas vezes confundem os novatos ou aquelas pessoas que conhecem a umbanda somente pela "parte de fora", as que ficam na assistência. Sempre procurei esclarecer quem tem dúvidas, mas dentro de um bom senso, o trabalho de ensinar cabe aos dirigentes, pois cada casa tem sua forma de trabalhar e formar seus médiuns e esclarecer sua assistência e frequentadores.
12. O objetivo principal da umbanda é a caridade. É possível fazer caridade pelas comunidades do orkut, sites ou blogs?
Eu e meu amigo Douglas Fersan já tentamos várias vezes incentivar as pessoas a saírem do virtual e se organizar na vida real, porém é muito difícil, inclusive nessa última catástrofe no Rio de Janeiro, tentamos um meio de arrecadar doações, até coloquei meu terreiro à disposição de quem quisesse participar, mas infelizmente não tivemos o resultado esperado. Tivemos apenas alguns casos isolados de pessoas do Rio que foram até o local e passavam a informação, mas mobilizações em massa não aconteceram. Porém não desistiremos, acredito que água mole em pedra dura tanto bate até que fura, um dia conseguiremos unir um grupo e fazer algo em conjunto.
13. Quais são os planos para sua casa? Tem algum trabalho de caridade?
Em nossa casa fazemos campanhas de arrecadação de alimentos, roupas e utensílios domésticos. Fazemos essa campanha desde dezembro de 2010, e com esse trabalho estamos ajudando um pequeno orfanato, onde são recolhidas crianças que foram retiradas dos pais por motivos diversos. Buscamos mandar leite, bolachas e doces, se cada um ajudar de alguma forma, a estadia delas fica bem melhor. Ajudamos também uma comunidade do Bairro Jardim Represa, pessoas ligadas à casa da Mãe Maria Emília de Oyá.
14. Como você enxerga o momento atual pelo qual passa a umbanda?
Estamos trabalhando para mudar a visão dos filhos de umbanda e também da população de forma geral. Sou ligado à AFECAB, uma federação nova que começamos na cidade de São Bernardo do Campo. Em 2010 realizamos a 1ª Festa de Ogun em nosso município e foi um sucesso, tivemos por volta de mil e duzentas pessoas no Ginásio do Baetão. Vários grupos de dança e atrações ligadas a Umbanda e Candomblé, tudo sob a supervisão e mão de ferro da Mãe Maria Emília de Oyá, uma mãe-de-santo à moda antiga, idealista e batalhadora. Ela é a presidente da Federação e aos poucos vamos conseguindo unir o pessoal de Santo e Umbanda.
15. Você tem algum sonho para a umbanda, algo para o futuro?
Sim, meu maior sonho é ter nossa sede própria, um local onde possamos trabalhar com pessoas não somente na parte espiritual, mas também na dignidade, estudo, esclarecimento, onde possamos incentivar a busca por melhores condições de vida e trabalho.
16. Você tem um meio de contato para as pessoas interessadas entrarem em contato?
Sim, através do meu email pessoal familymeirelles@uol.com.br e também na nossa casa, rua Gasparini nº 44, bairro Rudge Ramos, em São Bernardo do Campo, onde as pessoas se encontram às terças-feiras às 20 horas, às quartas-feiras às 16 horas e aos sábados às 19 horas.
17. Na visão de dirigente espiritual de uma casa, qual a maior dificuldade que você encontra no dia a dia?
A maior dificuldade é conciliar pensamentos e modos de enxergar o trabalho dentro da umbanda, ter a sensibilidade de poder ajudar e esclarecer quem necessita muitas vezes de uma palavra ou mesmo um puxão de orelhas, tirar as dúvidas de filhos novatos e antigos, afinal estamos todos aprendendo sempre.
18. Qual a mensagem que você deixaria para os leitores dessa blog?
Uma mensagem de agradecimento pela lembrança desse simples trabalhador de umbanda, que sabe da importância de esclarecer as pessoas sempre dentro de um bom senso e de uma lógica honesta. Não podemos ignorar o poder da mídia dentro da nossa religião, devemos sempre buscar conhecimento, debater de forma saudável, porém com respeito a todos. Quando aceitamos ser instrumento da espiritualidade, nenhum guia nos falou que seríamos melhor que nossos irmãos que professam outra forma de fé ou religião. Escolhemos ser soldados de Oxalá, que é acima de tudo amor à criação de Olorum ou Deus, como muitos conhecem. Então a fé é importante, mas raciocinada, dentro de limites para um dia não nos arrependermos de uma palavra mal colocada ou dita, que venha ferir a criação de Olorum, nosso pai.
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Agradeço muito a colaboração do nosso querido RMeirelles, que nos agraciou com tão gentil e valorosa entrevista.
Pretendo em breve publicar entrevistas com outras pessoas. Algumas polêmicas, com visões diferentes mas que com certeza vão acrescentar bastante.
Obrigada aos leitores.

6 comentários:

  1. Eu Silvio Garcia, admiro, respeito meu irmão de fé, Meirelles, um idealista nato, soldado de Oxalá, sempre sereno, enfim não teria uma melhor DEFINIÇÃO a não ser:

    OBRIGADO POR VC EXISTIR, OBRIGADO POR SER MEU AMIGO.

    Silvio

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  2. Ótima entrevista!
    Conheço o Meirelles e posso garantir que é ótima pessoa!!!
    Parabéns!

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  3. Apesar de termos uma visão muito diversa em varios assuntos , provavelmente pelos antecedentes e caminhos diferentes dentro da crença ,bem como visões diferentes , gostei do que li...

    Abraços

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  4. Eu sou suspeito para falar do Meirelles, pois é um amigo pessoal. Mas de qualquer forma acho que ele se saiu muito bem na entrevista, falou com propriedade, sobriedade e sem qualquer ataque de estrelismo.
    Vale dizer também que conheci a casa espiritual sob o seu comando e a conduta dos trabalhos é impecável. Parabéns ao Meirelles e à Carmen por essa entrevista.

    Douglas Fersan

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  5. Quando a Carmen solicitou minha participação confesso que fiquei apreensivo, porque sinceramente não é minha praia aparecer, fujo disso, tive algumas experiências desagradaveis com pessoas exibidas.
    Mas aceitei porque somente participando podemos mudar alguma coisa com o que sonhamos.
    Espero que outras pessoas também falem e digam o que pensam e sonham, somente desta forma poderemos ter uma Umbanda forte sem medos ou receios.
    Amo minha religião, minha casa, meus filhos e as pessoas que passaram a fazer parte de Nosso Terreiro sentem isto também, estamos todos nesta roda viva da vida e juntos com certeza será mais facil passar de ano...

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