domingo, 27 de setembro de 2009

Laços que se rompem.





Outro dia me deparei com uma situação inusitada.

Estava apressadíssima, com mil coisas para fazer, um artigo para entregar a um amigo (que prometeu me apresentar a um grande editor), nervosa com as coisas atrasadas e, para variar, com algumas contas para pagar.

Não tinha tempo para almoçar.

Almoçar?

Imagina... isso seria um luxo em meio àquela situação toda.

Parei numa lanchonete, dessas bem populares mesmo, e pedi meu lanche preferido: um bauru com bastante queijo e um refrigerante daquela marca americana, o qual consumo mas me recuso a fazer propaganda. Sentei no banco em frente ao balcão e fiquei contando os minutos.

Estava lá, tomando meu refrigerante enquanto aguardava meu lanche ficar pronto, quando senti uma presença ao meu lado.

Não, não era uma entidade nem um encosto. Virei os olhos e vi um velho.

Provavelmente era um morador de rua, com uma enorme barba branca e aquele cheiro característico de quem não encara um chuveiro há dias.

Minha reação foi instantânea: levantei-me dali e sentei em outro banco, mais distante do velho.

Foi então que aconteceu.

Talvez uma bofetada doesse menos. Qualquer tortura impetrada à carne seria menos dolorida que aquela olhar que penetrou meu ser. Os opacos olhos azuis do velho mendigo penetraram minha alma como alfinetes que espetam um fetiche de vodu. Senti como se estivesse completamente nua.
Toda a insgnificância da minha alma foi exposta àquele olhar, que não tinha nada de especial, não era belo nem feio, era apenas penetrante. Tão penetrante que doía.

Doía a consciência. A consciência de saber-se humano e renegar o humano tão próximo e tão frágil.

Quem sou eu para me afastar de alguém devido à sua aparência, condição social ou cheiro?

Tenho, por acaso, maiores virtudes ou maior sabedoria que aquele homem de barbas brancas e rugas profundas?

Será que não houve um dia em que eu, mesmo sem saber, exalei odores desagradáveis e sequer percebi?

Até quando vamos negar que o outro ser também é humano, elevando-nos (e somente a nós) à condição de quase deuses?

Será o capitalismo?

Será o egoísmo?

Que "ismo" será?

Aquele velho não disse nada, apenas pareceu perguntar, com o seu olhar: por que te afastas de mim?

Paguei o lanche e o refrigente, mas não tive estômago para comer, tamanha a decepção que meu preceito causara em mim mesma.

Sei que naquela dia um laço se rompeu dentro de mim: o laço do orgulho, mostrando o quanto ainda sou frágil frente às minhas idéias pré-concebidas. Tenho muito o que aprender. Como e quando isso acontecerá?

Não sei... talvez a duras penas.


The answer, my friend, is blowin' in the wind...

domingo, 23 de agosto de 2009

Tolerância e passividade - texto de Douglas Fersan



TOLERÂNCIA E PASSIVIDADE
Muita gente confunde o ato de ser tolerante com ser passivo. Ledo engano.
Ser passivo é assistir as coisas acontecerem e não descruzar os braços. É mostrar-se indiferente diante da dor, da injustiça, da mentira e de tantas outras mazelas éticas e morais que infectam o planeta.
Ser passivo deveria ser crime, pois sabe-se muito bem que a omissão é tão nociva quanto certas atitudes. Calar-se frente uma injustiça é contribuir para que ela continue acontecendo, e isso, de certa forma, tornou-se praxe na sociedade contemporânea. Diz um ditado que “em briga de marido e mulher não se mete a colher”, assim, a quem acredita nessa máxima popular, resta fazer vistas grossas diante de hematomas sociais e ignorar que leis como a “Maria da Penha” tiveram que ser criadas para estancar uma ferida que sangra silenciosa, graças à passividade e à omissão.

Ser tolerante é diferente. É reconhecer o outro, respeitando as diversidades e o direto delas existirem. Ser tolerante não é uma qualidade que deve ser ressaltada naqueles que a tem. Ser tolerante é um dever de todos, pois de todos é, ou deveria ser, o compromisso de construir um mundo mais habitável e ético.

Respeitar a diversidade é abrir a mente para aprender coisas novas, e isso não significa abrir mão das próprias crenças e convicções, mas sim estar preparado para tornar-se um ser intelectualmente melhor, mas nem todos estão preparados para a aventura de sair de sua pequena e ridícula redoma cultural. É mais confortável recolher-se à sua concha e tal qual uma ostra, observar apenas o pequeno universo que seus míopes olhos enxergam, e despejando uma cachoeira de críticas sobre aquilo que não se compreende.
A tolerância deve abranger todos os níveis: social, sexual, racial, religioso, ideológico, e não apenas aqueles setores que mais convém à particularidade de cada um. Essa tolerância é hipócrita. Ser tolerante é, acima de tudo, ser sábio.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

É difícil ter fé quando se tem conhecimento?


É difícil ter fé quando se tem conhecimento?

Essa é uma pergunta recorrente, porque sempre se ouve falar a razão e a fé não combinam. É como se fosse impossível ter fé e razão ao mesmo tempo. Mas será que isso procede?
É claro que existem aqueles sacerdotes das variadas religiões que usam a ignorância do povo para conseguir alcançar seus objetivos materiais, mas sempre existe um diferencial. Lembro uma vez, que eu ainda era adolescente, que fui a uma Igreja Batista com uma tia. Foi uma surpresa para mim, porque eu esperava ver uns crentes alucinados, berrando “aleluia” e sem qualquer conhecimento de nada. Foi um engano total. O pastor, muito simpático, fez um estudo da Bíblia. Mas não foi apenas uma leitura, foi um estudo mesmo, muito completo e até bastante imparcial. Desde esse dia eu passei a nutrir uma grande simpatia pela Igreja Batista, apesar da minha formação mais mística.

De uns tempos para cá tenho acompanhado vários debates, pois quero fazer meu mestrado baseado nesse tema: fé e razão. Pesquisei, pesquisei e pesquisei. Pesquisei tanto que até resolvi criar esse blog. E descobri coisas fascinantes. Pessoas das mais diversas religiões que mantém acesa a chama da fé sem se afastar dos princípios da razão.

Encontrei um pastor maravilhoso em Campinas, chamado Márcio Pinheiro. Ele realiza um culto sem apelar para aqueles dogmatismos tradicionais, cansativos. Leva seus fiéis a pensarem sobre questões éticas e morais. Foi com grande encanto que assisti a três cultos realizados por ele.

Foi com grande encanto também que encontrei o blog “umbanda em debate” (
www.umbandaemdebate.blogspot.com ), do sociólogo Douglas Fersan. A surpresa aí foi até maior, pelo fato do autor do blog ser um sociólogo. Esses acadêmicos quase sempre são marcados por um ceticismo tão ortodoxo que chega a parecer religioso. Mas com Douglas Fersan é diferente. Ele fala (escreve) sobre umbanda de maneira leve, com tranqüilidade e conhecimento de causa e com uma linguagem ao mesmo tempo culta e compreensível. Sempre buscando auxílio da história e no comportamento social, ele mostra que a umbanda é mais que uma religião, é resultado da magia que faz parte da cultura brasileira.

Transcrevo abaixo um pequeno trecho de uma entrevista que Fersan concedeu ao blog Espírito e Magia (
www.espiritoemagia.blogspot.com ):

"ESPÍRITO E MAGIA: Nunca ocorreu um conflito entre o sociólogo e o umbandista? Pode ser que não, mas num primeiro olhar, parece uma combinação estranha.
Douglas Fersan: Não existe esse conflito, pois eu acho que a Umbanda, como poucas religiões, é bastante pragmática. O olhar de sociólogo me faz não aceitar mistificações, o que é bastante positivo, além de aguçar a sede de conhecer e entender a Umbanda nas suas mais profundas raízes. Acho que essa combinação mais ajuda que atrapalha."

São duas vertentes opostas: o protestantismo de Márcio Pinheiro, aliado a seu carisma, e a umbanda de Douglas Fersan, com um cunho histórico e sociológico, mas são duas provas vivas de que a fé pode muito bem conviver com a inteligência e a razão.

Gripe A - H1N1 - O medo

De tempos em tempos uma nova calamidade parece se abater sobre o nosso sofrido povo.
Na década de 1980 veio o "boom" da AIDS. Inicialmente todos achavam que era uma doença (não é uma doença) que afetaria somente os homossexuais e as pessoas promíscuas, aumentando o preconceito e a homofobia. A AIDS chegou a ser chamada de Câncer Gay.
Hoje sabemos que não é bem assim. Os chamados "grupos de risco" são mais abrangentes do que pensávamos. Famosos morreram (Rock Hudson, Cazuza, Sandra Bréa, Fred Mercury). Isso mostrou que somos todos iguais, independente da condição sexual ou social.

Na década de 1990 o vírus ebola assustou multidões. Houve também um surto de cólera.

Agora somos pegos de surpresa por essa pandemia do vírus H1N1, da gripe A, ou gripe suína, como é mais comumente chamada.

Medidas de emergência foram tomadas, aulas suspensas, campanhas de esclarecimento foram feitas, mas o que será que a mãe natureza tem a nos dizer com tudo isso?

Não seria o momento de repensar nossos próprios atos, bem como a própria existência?

Ou seria momento de pensarmos mais em ações como a solidariedade, pois é bem sabidos que essas pandemias atingem quase sempre as camadas sociais menos favorecidas.

Que as mãos se unam em preces, independente do culto religioso, pelas famílias atingidas por esse surto.

Fé em nossas vidas.